tag:blogger.com,1999:blog-27170681582543231682024-03-13T11:22:00.243-03:00Alexandre TelesO Estranho MisteriosoAlexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-24756694357783316792018-03-06T01:14:00.000-03:002020-03-29T15:50:00.286-03:00Uma breve análise sobre a Atenção<div style="text-align: justify;">
Neste Universo espaço é liberdade e tempo, prisão: é possível deslocar-se no tempo, estando imóvel no espaço. Deslocar-se no espaço permanecendo imóvel no tempo, no entanto, é uma impossibilidade: o tempo sempre mantém sua marcha incessante. O espaço, vasto e ilimitado do ponto de vista do indivíduo em condição humana, em nada assemelha-se à limitação crescente imposta ao tempo de que usufruiu.</div>
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Dentre as muitas realidades que podem ser diretamente análogas ao tempo, seja por terem sua natureza diretamente dependente deste ou porque sem ele não podem completar inteiramente o seu propósito, a mais humana é aquela a que chamamos "atenção". Não porque apenas a mente humana seja capaz de exercitá-la, mas sim pelo fato de que apenas esta mostra-se capaz de produzi-la de forma endógena, orientando-a através da memória, para criar representações do mundo externo sobre as quais ela mesma trabalha e no qual enraíza sua existência. [1]</div>
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<br /></div>
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A princípio esta capacidade parece não relacionar-se diretamente à liberdade do indivíduo ou mesmo ao tempo. Esta ponderação é compreensível, uma vez que podemos propor a hipótese da mente como uma entidade preternatural cujos processos por vezes prescindem o tempo e o espaço. Consideremos, no entanto, que o estar humano (longe de ser divino), é de realidade inacabada, instável, fluida e assim é o seu pensamento que, se adotarmos a posição de Parmênides posteriormente retomada por René Descartes, equivale a sua própria existência.</div>
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Se o pensamento significa o humano e este é inacabado, instável e fluído, também deve sê-lo o pensamento e suas obras. Assim sendo, o exercício do pensamento, uma amarra inquebrável de nossa condição, só pode ser realizado dentro da prisão do tempo pois importa dele sua marcha e sua rigidez. Aquilo que anteriormente nomeamos atenção podemos agora definir como um exercício mental (consciente ou não) de tomar posse, de forma clara e vívida, de um ou mais objetos observados ou linhas de pensamento. [2]</div>
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<br /></div>
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Ora, se a atenção é o exercício através do qual a mente toma posse daquilo que observa, é somente através desta prática que pode compreender o que a cerca. É preciso praticar a atenção para que nestes objetos apreendidos possam trabalhar a razão e a intuição, no sentido de construir uma imagem interna do observado, seja ele externo ou interno.</div>
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<br /></div>
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Não diferenciam-se os observados interiores e exteriores em sua relação com o tempo. uma vez que a natureza agressiva do tempo que passa (e nunca volta), que implica a instabilidade e mutabilidade de todas as coisas e, por sua vez, a impossibilidade de que o significado apreendido das coisas corresponda as coisas mesmas (pois quando compreende, o compreendido já mudou), obriga-nos a um exercício constante e ininterrupto da atenção para ambos.</div>
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A atenção seria, pois, a forma de foco de nossas energias interiores através das quais o exercício do pensamento e do ser tornam-se possíveis. Ela é exercida no tempo e no espaço e relaciona-se com ambos, com o tempo por meio dos mecanismos acima apresentados e com o espaço por ser daí que tira os objetos sobre os quais se debruça o pensamento e, por consequência, é por meio dela que o altera.</div>
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<b>Referências</b></div>
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<li>PROCTOR, Robert W.; JOHNSON, Addie. Attention: Theory and practice. Thousand Oaks: Sage, 2004. 474 p.</li>
<li>JAMES, William. The Principles of Psychology. New York: Holt, 1890. 1393 p. 53 v. Disponível em: <<a href="https://archive.org/details/theprinciplesofp01jameuoft">https://archive.org/details/theprinciplesofp01jameuoft</a>>. Acesso em: 08 mar. 2018.</li>
</ol>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-43421575228310451752016-07-02T21:00:00.000-03:002020-03-29T15:47:57.982-03:00Apologética do Futuro – 'porque tive fome e me destes de comer…'<div style="text-align: justify;">
Sabe seu Manoel, lá pelos idos dos anos 2016 eu ainda tinha alguma esperança de que as coisas iriam melhorar. Eram tempos difíceis, o senhor bem se lembra… Eu, que nessas alturas ainda era um jovem estudante, achava que a tecnologia seria a grande graça dada por Deus para vivermos bem nesse mundo. Olha só, que tristeza: acreditando nas obras dos homens. O senhor sabe que eu cheguei a militar nessas causas? Acreditava piamente que a fome acabaria, que as doenças deixariam de existir. O fato é, cá estamos no ano 2100 e as coisas só pioraram. Aliás, melhoraram só para os abastados…</div>
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<br /></div>
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Mas no meio de tudo isso, fiquei tão feliz, seu Manoel, quando ontem pela manhãzinha… Oras seu Manoel, sente-se logo nessa cadeira que aqui a casa nem minha é: é do Senhor Jesus! Pois então se sente aí e sirva um pouco de chá pra nós dois que vou lhe contar o que houve. Aprumou-se? Pois bem, escute só.</div>
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<br /></div>
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Ontem pela manhã, quando o carteiro passou por aqui me gritando, deixou uma carta de Dom Antônio, padre muito amigo meu que anda lá pelo que restou do Brasil fazendo missão. Sentei ali no sofá e comecei a ler a carta. Lia, lia, relia e não conseguia conter as lágrimas. Dizia ele que já não havia muito pelo que rezar naquele lugar: nem povo, nem chuvas, nem colheita, nada. Havia tornando-se pároco de uma pequena igreja isolada no meio do nada, como quase todas as outras que lá ainda existem.</div>
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Parecia amá-la tanto, veja como a descreve:</div>
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<i>"Uma igrejola de uns 5 metros de altura (a maior parte deles devido à sua torrezinha com um sino), que havia de ser branca antes da ventania de areia deixar-lhe apenas o cimento nas paredes. Sem janelas e com apenas uma porta de madeira que se nega a deixar-se comer pelo tempo. Ainda azul por dentro, no presbitério elevado por um único degrau de mármore branco, há apenas um altar unido à parede com um sacrário no meio. O altar ainda conserva, logo acima do sacrário de bronze já desgastado (onde figura um cordeirinho imolado, encimado por uma bela cruz), uma imagem em estilo barroco de Nossa Senhora das Graças (mas que parece ser uma impressão 3D em plástico). Seus quatro bancos de madeira, separados em duas filas, ainda mantém seus genuflexórios intactos."</i></div>
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<br /></div>
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Sei que não pôde demorar muito falando dela como queria, disse-me que havia pouco papel e pouca tinta, e que desejava relatar algo que acontecera com ele poucos dias antes de escrever a carta. Explicou-me que naquela região os bancos da Igreja, que já não são muitos, nunca viam mais do que uma ou duas pessoas nas missas dominicais. Por vezes não podia distribuir a comunhão porque – que dificuldade! – celebrava com apenas umas gotas de vinho velho e um pequeno pedaço de pão.</div>
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<br /></div>
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Contou então um caso, ah que caso! Levou-me as lágrimas seu Manoel, o que falou logo em seguida. Estava ele sentado em um dos bancos da igreja cantando a Meridiana, lá fora o sol castigava tanto que o pouco vento que entrava pela porta lhe cozinhava os miolos. A boca rachada de sede, pois a única ajuda (que vinha da Igreja), havia se tornado tão parca que passados dias não comia ou bebia. Parecia-lhe, dizia ele, que agora a Igreja se preocupava mais com os sãos e os descarados (palavras dele!) do que com os doentes e arrependidos.</div>
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<br /></div>
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Mesmo com a sede e a fome estava lá, fiel ao ministério de orar pelo povo e pelo mundo. Enquanto revisitava a monotonia cotidiana de sua salmódia ouviu pequenas batidas na porta: estaria delirando pela fome e pela sede? Olhando para trás viu uma figura esguia, tão raquítica e ossuda quanto a própria morte, estendendo-lhe a mão e lhe dizendo com a voz tão trêmula quanto a visão do horizonte naquele inferno:</div>
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<br /></div>
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– Posso entrar, senhor?</div>
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<br /></div>
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Respondeu-lhe prontamente que a casa era de Deus e, por tanto, ali eram bem vindos todos os seus filhos. A figura entrou, repousou o que lhe restava de corpo em um dos bancos e começou a chorar. Ao aproximar-se, Dom Antônio cobriu-lhe com um lençol roto e perguntou-lhe de onde vinha (e para onde ia), ao que ouviu um soleníssimo:</div>
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<br /></div>
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– Não sei…</div>
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<br /></div>
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Perguntou então se tinha fome e sede, o que havia de ser óbvio para qualquer um apenas ao ver aquela figura. Recebeu como resposta um singelo balançar de cabeça. Como não havia de alimentar e saciar a sede daquela criatura de Deus? Mas nada tinha, ele mesmo, para comer. Estava à espera – interminável – da pouca ração que havia de vir de Roma como ajuda da Igreja, mas olhava para aquele irmão e já sentia dores de compaixão. Eis que se recordou que havia ainda, no Sacrário, algumas poucas partículas consagradas na última Missa.</div>
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<br /></div>
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Questionou àquele ser se era batizado. A negativa lhe fez tremer por inteiro. Enquanto permanecia de pé, embasbacado, o Espírito Santo veio em seu auxílio e o seu irmão disse em voz baixa:</div>
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<br /></div>
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– Senhor, se tem alguém que te faça tão bom que o senhor se preocupe comigo mesmo sem ter o que comer também, me deixa falar com ele?</div>
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<br /></div>
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Quando li isso, seu Manoel, despenquei em lágrimas. Tá aqui ó, o papel todo manchado. Engraçado que meu irmão diz ter chorado na mesma hora… Até que, segurando as lágrimas, perguntou àquela figura se queria mesmo conhecer a Jesus e servi-lo e se estava arrependido de todo e qualquer mal que tivesse feito em sua vida. Tendo recebido um breve balançar de cabeça como resposta, pois-se a batizá-lo. Percebeu tardiamente que não tinha água com que batizar, então, ao longo do rito, onde havia de banhar-lhe a cabeça, fez uma pequena prece em silêncio, molhou os dedos nas gotas de água que restavam em seu cantil, e marcou-lhe a fronte em forma de cruz.</div>
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<br /></div>
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Dom Antônio então leu para José, de sua bíblia já muito gasta, a liturgia do dia:</div>
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<br /></div>
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<i>"Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim."</i></div>
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<span style="font-size: x-small;">São Mateus 25, 34-36</span></div>
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<br /></div>
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Viu um brilho tão intenso nos olhos de José, que a cada minuto se admirava mais com a beleza daquele Deus imenso, que havia chegado faminto, sedento, desterrado, despido, doente, preso à carne; assim como ele que agora estava ali na frente do meu amado irmão, que após uma longa vênia abria o tabernáculo onde habitava aquele amor tão grande. José, instintivamente ajoelhou-se e rezou. Dom Antônio, enquanto preparava no Altar o repouso do pequeno cibório, explicava os eventos da Santa Ceia e da Paixão de Cristo, para aquele que seria até o fim de sua vida, seu ouvinte mais atento.</div>
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<br /></div>
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Ao fim, contou as partículas no cibório: sete. Pensou se havia ele mesmo de alimentar-se também do pão dos anjos, mas viu que a pouca quantidade mal alimentaria seu pobre irmão. José gastou algum tempo admirando aquilo que parecia apenas pão, mas era Corpo e Sangue. Dom Antônio deu-lhe quanto tempo foi necessário para adorar aquele Deus tremendo… José então abriu-lhe a boca ao que meu amado irmão lhe disse:</div>
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<br /></div>
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– Corpus Christi.</div>
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<br /></div>
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José, como ensinado, respondeu-lhe firmemente:</div>
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<br /></div>
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– Amém.</div>
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<br /></div>
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E alimentou-se daquele de quem é dito, seu Manoel, “Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer”. Meu querido irmão completou dizendo que José repousou na Igreja e lá dormiu. No dia seguinte, quando levantou-se, já não o encontrou na igreja. Creio que ainda tinha muito mais para contar-me, principalmente daquilo que sentira, mas pela vontade de Deus, esgotou-se papel e tinta…</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-32713667639317228802016-06-10T15:32:00.000-03:002020-03-29T15:32:56.381-03:00A Última Missa em Latim<div style="text-align: justify;">
– Foi tão bonito, Pai. Foi tão bonita a tua presença. Tanta felicidade, que não havia como acreditar no que estava acontecendo. Algumas vezes, parecia que tuas bênçãos derramavam-se sobre nós. Em outras, nem sei como dizer isto, mas julguei que as pessoas olhavam para mim como se desejassem estar no meu lugar. Ou seria um pouco de vaidade tomando conta de mim? Perdoa-me, meu Pai, pois até um pobre homem como eu também fica sujeito a essas fraquezas.</div>
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<br /></div>
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No trajeto em direção à velha igreja, para onde se dirigia todas as manhãs a fim de tocar os sinos que anunciavam a missa aos fiéis, seu Ludinho procurava colocar os pensamentos em ordem, com a mente voltada para a noite do dia anterior, um domingo, quando ajudou Monsenhor a celebrar a última missa em latim para os paroquianos da cidade.</div>
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<br /></div>
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Quantas vezes, recordou, e nunca mais haveriam de se repetir as cerimônias em que tomara parte ativa durante toda sua vida. Nunca mais ouviria os cânticos que tanto compraziam Monsenhor e que ele mesmo se esforçava para acompanhar, repetindo-os muito mais com o pensamento do que com a própria voz. Não, seu Ludinho sabia que as coisas nunca mais seriam como antes.</div>
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<br /></div>
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Envolvido em profundo recolhimento, ocupara ele, na noite anterior, o seu lugar na celebração, de corpo e alma entregue aos cuidados de um ritual que, mesmo sabendo-o repetido e de cor, em certas ocasiões fazia nele ressurgir a mesma emoção que sentiu ao ajudar Monsenhor pela primeira vez. Tão forte, que jamais teria como esquecê-la. Dessa vez, no entanto, ele sabia que fora tudo diferente.</div>
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<br /></div>
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– Alguém chegou a lhe dizer, não é mesmo seu Ludinho, que a última vez é sempre diferente?</div>
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<br /></div>
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Bastante idoso, todos os dias seu Ludinho acordava muito cedo. Levantava-se com o canto das primeiras aves que, de quintal em quintal, desdobravam-se para lembrar que, também para ele, era chegada a hora da alvorada. E levantava fazendo o seu “Em nome do Pai”, em paz consigo mesmo e entregue às lembranças de uma vida que os mais antigos diziam reportar ao tempo de seus avós. O que, na verdade, não passava de simples brincadeira, apesar de ninguém conhecer a verdadeira idade que ele tinha: oitenta anos, de qualquer forma, pareciam lhe cair bem. Fosse como fosse, seu Ludinho nunca admitiu ter mais de setenta. E, em respeito ao seu desejo, esta ficou sendo a sua idade: setenta anos que, repetidos, ano a ano, continuavam a ser apenas setenta anos.</div>
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<br /></div>
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Seu Ludinho andava muito devagar e seus passos, um a um, arrastando-se pelas calçadas, demoravam três a quatro vezes o tempo gasto por uma pessoa de meia idade em igual trajetória. Sua estatura mal ultrapassava o ombro de uma pessoa de médio porte e como seus olhos estavam sempre voltados para o chão, isso o fazia parecer ainda mais baixo do que era.</div>
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<br /></div>
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Usando, o mais das vezes, um mesmo terno de cores encardidas, corroído pelo uso e nada proporcional à fragilidade de seu corpo, a aparência de Seu Ludinho, recurvado e à distância, não diferia muito de um bem antigo sacristão; e olha ali, devagarinho, lá vai ele.</div>
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<br /></div>
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Naquela manhã, ao se dirigir à igreja, uma chuvinha fina e persistente surpreendeu-o a poucos passos de sua casa. Ao contrário de seus hábitos, estava bastante atrasado, mas, como havia se esquecido do guarda-chuva, recostou-se debaixo do beiral de um telhado para ver se as águas passavam. De repente, lembrou-se que, naquele dia, era aniversário de Monsenhor.</div>
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<br /></div>
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– Coitado de Monsenhor – foi-se deixando levar, após muita recusa em dar curso a alguns pensamentos que insistiam em provocá-lo. – Depois de tantos anos, prosseguiu, seria difícil Monsenhor se acostumar com os novos tempos que chegavam para a Igreja. Quem celebrou missa em latim a vida inteira não veria com bons olhos a nova liturgia, toda ela de tal modo instituída que a qualquer um seria dado agora, fácil, fácil, desvendar os seus mistérios e o que mais fosse.</div>
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<br /></div>
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Não, seu Ludinho não concordava nem um pouco com o que estava acontecendo. Para ele, o mais bonito da missa sempre esteve associado à forma como se cumpriam os seus rituais. Não via sentido em substituírem o latim nos textos sacros. Depois, transpostos para o português, eles ficariam transparentes demais, irreconhecíveis mesmo, sem dizer que até um vagabundo como Zé Margarida, esse arruaceiro incapaz de soletrar o próprio nome, poderia vir a entender o que até então fora exclusividade de alguns poucos, entre os quais, ele próprio, seu Ludinho, conquistara seu lugar.</div>
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<br /></div>
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Missa em latim, para seu Ludinho, era outra coisa. Essa ficava somente ao alcance da competência de Monsenhor. Do seu zelo pelas tradições. Do fervor com que se entregava às suas preces. E de conhecer tão a fundo o antigo idioma dos romanos que poucos conseguiriam se expressar naquela língua com tanta fluência como ele.</div>
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<br /></div>
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Dava gosto assistir às suas missas. Sem dizer do bem que fazia a seu Ludinho ouvi-lo pronunciar uma daquelas bonitas citações tão presentes em seus sermões. Uma delas, por exemplo, ele sabia quase de cor. Tamanha era sua carga de persuasão e envolvimento que, mais de uma vez, após Monsenhor traduzi-la em linguagem corrente, seu Ludinho notou uma ponta de arrepio subir à face dos fiéis lá melhor aquinhoados com os bens desta vida, enquanto os outros, os mais desafortunados, como que suspiravam aliviados diante de algo que caía como uma luva para compensá-los da pobreza e da penúria dos seus dias.</div>
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<br /></div>
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E foi com a mente voltada para essas recordações que seu Ludinho, recompondo-a como pôde, ouviu de novo ressoar a velha sentença tantas vezes proclamada por Monsenhor; aquela que fala da passagem de um camelo pelo buraco de uma agulha:</div>
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Facilius est camelum per foramen acus transire do que um rico entrar no reino dos céus.</div>
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<br /></div>
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– E abolirem uma prática dessas – queixou-se, contrariado, por ter esquecido algumas palavras do texto original.</div>
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<br /></div>
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Bem, em vista dos laços que os uniam, é verdade que Monsenhor continuaria a ser para ele o mesmo Monsenhor de sempre, mas, de qualquer forma, diante do ocorrido, não via como continuar ajudando-o nas celebrações.</div>
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<br /></div>
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– Ah, os tempos estão mudando, seu Ludinho – soprava-lhe uma voz no fundo do pensamento. – Não vê que, se todas as coisas passam, as missas um dia também acabariam se modificando?</div>
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<br /></div>
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A chuva começou a aumentar e seu Ludinho recostou-se sob a proteção do beiral, procurando distrair-se com os filetes de água que escorriam nas calçadas. Embora não quisesse demonstrar, ele estava bastante contrariado. De mais a mais, ajudar a missa em português jamais seria tarefa de seu agrado. E disso ele já dera provas: desde o primeiro momento, recusou-se a aprender os novos textos para acompanhar Monsenhor na celebração. Foi preciso prepararem outro sacristão, treiná-lo, corrigi-lo, incentivá-lo, comprovando que não seria nada fácil arranjarem um substituto à altura de suas funções.</div>
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<br /></div>
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E pensar que havia gente satisfeita com as mudanças. Havia, seu Ludinho sabia disso. Alguns, então, além de aplaudi-las ao menor pretexto, embaralhavam de tal modo as coisas que ficava difícil saber aonde pretendiam chegar. Lá mesmo, nas imediações da casa paroquial, não morava um professor, cheio de idéias estranhas, a quem ele sempre devotara manifesta antipatia e desconfiança? Pois bem, não foi ele, o professor, quem disse, durante as cerimônias da Semana Santa, que um dia a Igreja abandonaria a mesa dos ricos para aquecer a morada dos pobres?</div>
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<br /></div>
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– Agora, mais essa – reclamava seu Ludinho.</div>
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<br /></div>
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Na verdade, voltando ao que mais o afligia, ele não via motivo para ser alterado um ritual que, na sua mente, se confundia desde o início dos séculos com a transfiguração de um Deus misericordioso que, a cada santa missa, renovava o supremo sacrifício para se oferecer à comunhão dos santos e dos homens. Se bem lhe haviam dito que a mudança fora ordenada por Roma. Mas, nem por isso aceitaria o que, a seu juízo, não passava de um grande erro.</div>
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<br /></div>
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– Fica difícil entender, Seu Ludinho. Afinal, o Papa é infalível. Como admitir então que ele pudesse se enganar numa questão delicada como essa?</div>
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<br /></div>
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Cercado de dúvidas, seu Ludinho, para não se aborrecer ainda mais, preferiu retornar à noite anterior. Lembrou-se, então, dos gestos de Monsenhor, do modo sereno como ele soube se conduzir, de seus paramentos, da envolvente espiritualidade que tomou conta da igreja durante a celebração. Um brilho diferente começou a transparecer em seus olhos.</div>
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<br /></div>
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Viu-se de joelhos, diante do altar, contemplando o sacrário que abrigava a presença viva do Senhor. As imagens dos santos, em curtos gestos de adeus, evocavam, uma a uma, as bem-aventuranças do paraíso. Uma crescente sensação de quietude começou, então, a envolvê-lo, a apaziguá-lo, abrandando aos poucos suas contrariedades e aflições.</div>
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<br /></div>
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Assim que o Kyrie eleison, unindo as vozes dos fiéis em uma mesma e comovida oração, espalhou-se pela nave da igreja, seu Ludinho, tomado de emoção, reconheceu nelas a própria voz do Senhor, como a dizer que ele um dia também estaria no céu contemplando-O face a face.</div>
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<br /></div>
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E como esquecer a passagem em que, após a eucaristia, Monsenhor, com as mãos erguidas, proferiu emocionado o Benedicat vos omnipotens Deus?</div>
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<br /></div>
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Ao que os fiéis, ajoelhados, responderam com o sinal da cruz.</div>
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<br /></div>
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– Pater et Filius et Spiritus Sanctus – aduziu Monsenhor.</div>
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<br /></div>
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Naquele instante, um verdadeiro estado de êxtase tomou conta de seu Ludinho. E, como se não bastasse tudo isso, emocionou-se ainda mais ao relembrar o momento em que, Monsenhor, com voz grave e solene, proclamou, pela última vez, o Ite, missa est.</div>
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<br /></div>
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Ite, missa est, missa est, missa est: esta despedida incomodava-o desde a noite anterior, ressoava como um tremor em seus ouvidos, parecia persegui-lo, retornando cada vez mais forte, como se o est, est, est, quisesse romper seus tímpanos, ensurdecendo-o para sempre a fim de impedi-lo de ouvir as palavras corriqueiras que viriam substituir o que para ele seria insubstituível até o fim.</div>
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<br /></div>
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Agora, no entanto, estava ele ali inconformado e sem ter como dissociar a sua Igreja de uma frágil embarcação, velejando ao sabor das ondas sem saber a que porto chegaria.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A sua santa amada Igreja, abençoando seus filhos e libertando-os do pecado e da condenação eterna, graças ao sacrifício do Filho de Deus que se fez homem e morreu na cruz para salvar todos os que nele acreditassem.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A sua santíssima Igreja, acolhedora e de braços abertos, com os fiéis assistindo às missas aos domingos, batizando seus filhos, confessando-se e comungando, que a vida era cheia de sacrifícios e a lembrança do inferno, seu Ludinho sabia muito bem disso, mexia com os brios de qualquer um.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois, ele podia até estar enganado, afinal ninguém é dono da verdade, mas, a seu ver, a opinião do professor também continha um amontoado de erros, porque os pobres, pelo menos os que freqüentavam a igreja, não lhe pareciam tão pobres assim. Melhor seria dizer remediados, já que gozavam de boa saúde, eram muito educados e alguns nunca deixavam de bem vestir e até de engraxar os sapatos para a missa dos domingos.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por que, então, essa mania de as pessoas ficarem generalizando as coisas a ponto de abranger em seus devaneios um Zé Margarida qualquer, que, de tão inconveniente, ninguém hesitaria em colocar para fora da igreja, caso ele se atrevesse a aparecer por lá?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Ah, não – resmungou seu Ludinho. – As coisas estão certas do modo que Deus as dispôs. Ele mesmo, na sua infinita sabedoria, nada tinha a ver com o fato de existirem pessoas muito ricas e de outras não possuírem coisa alguma. E a Igreja também não estava aí para resolver nada disso não. Sua verdadeira missão ultrapassava esse amontoado de miudezas terrenas. Ou haveria algo capaz de superar o consolo firmado na crença de que, no dia do juízo final, os justos, pobres ou ricos, todos eles seriam perdoados e recompensados, por mais desiguais que lhes tivessem sido os favores desta vida?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Ah, serão mesmo, seu Ludinho? Então ninguém será condenado?</div>
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<br /></div>
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– Bobagem perder tempo com isso – reagiu.</div>
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<br /></div>
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Mas, os pensamentos não lhe davam trégua: afinal de contas, ele mesmo, seu Ludinho, também não era pobre? E por que sempre fora aceito, sem sofrer qualquer tipo de discriminação? Claro, porque havia dado um rumo certo à sua vida, colocando Deus acima de todas as coisas, cumprindo com acerto o seu dever e conservando sempre a maior distância do pecado, que isso nunca foi coisa para andar à solta em seu caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Por mais que raciocinasse, no entanto, as dúvidas retornavam mais fortes: a missa em português, a lembrança do professor, sua estranha previsão sobre o futuro da Igreja, tão diferente do modo como acostumara-se a concebê-la. Tudo isso, em sua mente, misturava-se a Zé Margarida e, ele, reagindo, repeli-as, recusava-as, tentava em vão contrapor-se ao que não tinha como aceitar.</div>
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<br /></div>
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– Bobagem ficar se desgastando desse jeito – resmungou, mais uma vez. – Não vale a pena queimar as mãos em tão pouca fogueira.</div>
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<br /></div>
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Na verdade, seu Ludinho, não vale a pena queimá-las em fogueira alguma. Ou vale? E se tudo fosse verdade? Essa história da Igreja ao lado dos pobres, o dia em que Monsenhor seria substituído nas pregações, Zé Margarida, imagina, Zé Margarida compreendendo o que os próprios séculos recusaram-se a mostrar de forma diferente, fazendo tudo parecer de um mesmo igual para todos, como se as coisas pudessem ser vistas e avaliadas de um só ângulo e, assim, iguaizinhas e sem mudanças, continuariam per omnia saecula saeculorum.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Mas, continuariam mesmo, seu Ludinho? – indagou-lhe a tal vozinha que, em algum lugar, dentro dele, teimava em vir à tona.</div>
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<br /></div>
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* * *</div>
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<br /></div>
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Súbito, a chuva passou. Seu Ludinho, olhando para uma poça d’água, viu nela refletida a sua própria imagem até que um novo pingo, caindo da goteira mais próxima, espargiu-se sobre a poça, diluindo o seu reflexo e também o reflexo de um tempo que ele pressentia pertencer agora a um mundo em que as palavras e as ações se confundiriam, cada vez mais, com os santos e os homens, em suas falas e profundidades.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E os santos e os homens, em suas falas e profundidades, também seriam confundidos com outros homens e outros santos que, dia após dia, com latim ou sem latim, haveriam de perceber que, por mais que as coisas mudem, nunca mudam as agulhas, os camelos, e os que aos céus não chegarão; apesar da previsão do professor, do próprio Zé Margarida e até mesmo das palavras de Monsenhor que, no fundo, bem no fundo, nunca se sabe. Ou sabe alguém?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>De Renato Sampaio</i></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Transcrito de Contos de bom humor. (Parte II – Outros Contos) – Belo Horizonte, 2007. Edições Hematita, 128 páginas</i></div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-86845586525299862362015-12-15T22:41:00.000-03:002020-03-29T15:32:27.990-03:00O farisaísmo e o rubricismo de que nos acusam e a verdade do evangelho<div style="text-align: center;">
<i>“As palavras dessa gente destroem como a gangrena. Entre eles estão Himeneu e Fileto, que se desviaram da verdade dizendo que a ressurreição já aconteceu e transtornaram a fé em alguns. Contudo, o sólido fundamento de Deus se mantém firme, porque vem selado com estas palavras: O Senhor conhece os que são seus (Nm 16,5); e: Renuncie à iniquidade todo aquele que pronuncia o nome do Senhor (Is 26,13).”</i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">II Timóteo 2, 17-19</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por conta do post que publicamos recentemente acerca daquilo que A IGREJA DIZ sobre as Missas de “cura e libertação”, fomos publicamente chamados de imbecis (por mais que o próprio Cristo Jesus nos proíba diretamente de dizer tal coisa a nossos irmãos; cf. São Mateus 5, 22). Ainda aos que não sabem, este que vos escreve serve como escravo ao Altar de Cristo, e por ser definitivamente fiel à Roma e ao nosso Arcebispo, disseram-nos que deveríamos nos envergonhar e abandonar o ministério extraordinário do acolitato ao qual Jesus nos chamou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Longe de ser de nosso interesse prolongar este tema, gostaríamos de usá-lo como ponto de partida para este post uma vez que tal posicionamento em tudo se relaciona com aquilo que o título deste post se propõe a descrever. Afinal estão errados aqueles que posicionam-se imutavelmente à favor do Sagrado Magistério, da Palavra de Deus e da Santa Tradição de sempre e os defendem como nos pede o Senhor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“[…] Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida.”</i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Apocalipse 2, 10</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De certo que muitas de nossas posturas podem parecer anacrônicas, velhas, carcomidas, mas é isto que Deus nos pede! Muitos dos que comparam estas nossas posturas àquelas dos fariseus – cujo fervor à rubrica tornavam a lei estéril – não reconhecem no Evangelho o vigor da Lei que Cristo tornou perfeita por ser ele mesmo o Grande Legislador. Jesus afirmou com toda a sua autoridade que não veio ao mundo para abolir a lei ou os profetas, mas veio para com a Sua Palavra edificante e o seu Preciosíssimo Sangue apagar a mácula do pecado original e imprimir em nossa alma, no lugar do pecado, a totalidade da lei (cf. São Mateus 5, 17).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por tanto, é da natureza do catolicismo ser não só uma “Religião do Livro” (ou dos livros), mas um povo de leis e preceitos. Preceitos estes que recebemos pela inspiração do Paráclito que o Senhor enviou sobre nós:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.”</i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">São João 14, 26</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma vez que estas leis nos foram dadas pelo próprio Deus, que nos ensinou todas as coisas enquanto seu povo e que também depositou em Pedro a autoridade máxima sobre a Igreja e seus fiéis, devemos respeitá-las como Vontade de Deus que são. Sem condições, vontades nossas ou caprichos. A Palavra nos alerta que não devemos nos desviar do ensinamento dos Apóstolos e seus sucessores (nossos Bispos):</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa.”</i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">II Tessalonicenses 2, 15</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não pela tradição ou pela lei em si, mas segundo São Pedro, guardião da fé Católica e ponto de união entre a Igreja Militante e a Igreja Celeste, que nos ensinou que:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado.”</i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">II São Pedro 2, 1s</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por tanto, não há em nosso comportamento vestígio de farisaísmo acusador ou rubricismo. Há no entanto, um carinhoso amor pela lei que Deus nos deixou e pelo ensinamento que nos deu por meio de seu Espírito Santo. Por isso, queremos responder de uma só vez a pergunta que nos fizeram (“e a fé do povo, onde fica?”), com o ensinamento dos Veneráveis, Beatos e Santos de Deus, homens e mulheres justos que em tudo foram fiéis a Deus:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Venerável Papa Pio XII, Carta Encíclica “Mediator Dei”, 1947</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“[…] Nós assinalamos, não sem preocupação nem sem temor, que alguns são excessivamente ávidos de novidade e se transviam fora dos caminhos da sã doutrina e da prudência. Porque, querendo e desejando renovar a santa Liturgia, eles promovem, muitas vezes, a intervenção de princípios que, em teoria ou na prática, comprometem esta santa causa e, às vezes até as mancham com erros que afetam a fé católica e a doutrina ascética.</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>A pureza da fé e da moral deve ser a regra principal desta ciência sagrada que é preciso conformar em todos os pontos aos mais sábios ensinamentos da Igreja. É, portanto, Nosso dever louvar e aprovar tudo aquilo que é bom e conter ou censurar tudo aquilo que se desvia do caminho justo e verdadeiro […]”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Venerável Papa Pio XII, Discurso do dia 31 de maio de 1954</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“[…] Existem hoje alguns, assim como nos tempos apostólicos, que se apegam mais do que convém às “novidades” no temor de passar por ignorantes de tudo o que arrasta um século de progressos científicos: constata-se, então, que eles, na sua pretensão de se subtrair da direção do Magistério sagrado, se vêm em grande perigo de se afastar pouco a pouco da verdade divinamente revelada e de induzir outros a irem com eles ao erro. – As “novas opiniões”, quer se inspirem elas em desejo condenável de “novidades”, quer em qualquer louvável razão […]”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Queremos lembrar ainda, antes de citar o amabilíssimo São Pio X, que uma vez que muitas destas “novidades” que buscam inserir na Tradição da Igreja para sobrepujá-la ou reformá-la, desejam apenas criar uma nova “teologia do arrepio”, modernista, que reduz o culto divino e a relação do homem com Deus à uma reles troca de favores sensoriais nas quais eu só fico feliz se “me sentir ()”. Sinta-se à vontade para inserir qualquer coisa dentro destes parênteses. E sobre essa doutrina modernista nos alerta o santo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>São Pio X, Carta Encíclica “Pascendi Domini Gregis”, 1907</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“[…] Por força desta doutrina, a razão humana fica inteiramente reduzida à consideração dos fenômenos, isto é, só das coisas perceptíveis e pelo modo como são perceptíveis; nem tem ela direito nem aptidão para transpor estes limites…”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Retornai pois, irmãos todos, à Verdade do Evangelho que é Cristo Jesus.</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-2969115821874491432015-12-03T22:50:00.000-03:002020-03-29T15:33:07.869-03:00Missas de cura e libertação, o que diz a Igreja?<div style="text-align: justify;">
Para os católicos letrados, seria fácil de responder que Roma jamais promulgou um próprio para uma Missa deste tipo. Por tanto, se não há no Missal Romano um próprio para que se celebre tal culto, não se deve celebrá-lo. De fato, há no missal uma seção intitulada “Missas para diversas necessidades”, a qual pode ser utilizada para diversas finalidades particulares. Existem ainda as Missas especiais de Rogações, as Missas para as Quatro Têmporas e uma Missa “pelos enfermos”. Mas e Missas para “curar e libertar”?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Poderíamos argumentar que “toda Missa cura e liberta”, uma vez que basta o Milagre Eucarístico e a comunhão para sanar todos os males, mas ao que parece este mesmo argumento se vê ultrapassado uma vez que há padres utilizando-se de argumentos espertos que vão desde “estas Missas se celebram de uma forma diferente” até “dinâmicas” que são introduzidas ao gosto do freguês, mesmo sem negar a natureza curativa e libertadora do Sacrifício de Cristo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os dois argumentos acima são falhos e criminosos em si mesmos, mas não é deles que trataremos. Definamos então as características básicas de uma Missa de Cura e libertação e analisemos se sua natureza condiz ou não com a Doutrina da Igreja. Nestas Missas são introduzidos:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<ol>
<li>Orações por cura e libertação;</li>
<li>Cantos emotivos e não litúrgicos;</li>
<li>Homilias artificiais, escandalosas e destoantes da Liturgia da Palavra no dia;</li>
<li>Novos momentos na ação litúrgica;</li>
<li>Exposição do Santíssimo Sacramento no ostensório ainda durante a Missa, e;</li>
<li>Gestos alheios às prescrições do Missal Romano.</li>
</ol>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Reconhecidas estas introduções, analisemos então.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto ao número 1, das orações por cura e libertação.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A autoridade perene e inequívoca do Santo Padre foi exercida por meio da Congregação para Doutrina da Fé, na “Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura” nos seguintes termos:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Art. 2 – As orações de cura têm a qualificação de litúrgicas, quando inseridas nos livros litúrgicos aprovados pela autoridade competente da Igreja; caso contrário, são orações não litúrgicas.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Art. 3 – § 1. As orações de cura litúrgicas celebram-se segundo o rito prescrito e com as vestes sagradas indicadas no Ordo benedictionis infirmorum do Rituale Romanum.(27)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por tanto, qualquer oração por cura que não esteja já inserida nos textos litúrgicos ou que não tenha sido devidamente aprovada pelo Bispo Diocesano, conforme o Can. 838 do CDC, não são litúrgicas e NÃO PODEM SER UTILIZADAS NA MISSA. Da mesma forma, qualquer Missa que deseje rogar a Deus pela cura dos enfermos DEVE SEGUIR A PRESCRIÇÃO CANÔNICA em sua forma, o que não inclui nenhuma das outras introduções das quais trataremos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é da tradição católica, e nem foi tratado ou autorizado por Roma em qualquer documento, orações por “libertação” a não ser aquelas dos ritos de exorcismo. Não se podendo inserir orações na Santa Missa alheias àquilo que ordena a Santa Sé, nos restaria questionar se ao menos as de exorcismo poderiam ser utilizadas para o fim de libertação. Sobre isso diz o mesmo documento:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Art. 8 – § 1. O ministério do exorcismo deve ser exercido na estreita dependência do Bispo diocesano e, em conformidade com o can. 1172, com a Carta da Congregação para a Doutrina da Fé de 29 de Setembro de 1985(31) e com o Rituale Romanum.(32)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>§ 2. As orações de exorcismo, contidas no Rituale Romanum, devem manter-se distintas das celebrações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>§ 3. É absolutamente proibido inserir tais orações na celebração da Santa Missa, dos Sacramentos e da Liturgia das Horas.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O direito permite, no entanto,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>§ 2. Durante as celebrações, a que se refere o art. 1, é permitido inserir na oração universal ou «dos fiéis» intenções especiais de oração pela cura dos doentes, quando esta for nelas prevista.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por tanto, mesmo na Oração Universal a oração pela cura dos enfermos só se faz quando for canonicamente prevista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto ao número 2, dos cantos emotivos e não litúrgicos.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já é fato batido e discutido em inúmeros documentos oficiais da Igreja, alguns infalíveis, qual a natureza do canto litúrgico (nO Quirógrafo de São João Paulo II, Tra le sollecitudini, no Documento da 48ª Assembleia Geral da CNBB, etc). No entanto, a “Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura” ainda nos diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Art. 9 – Os que presidem às celebrações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas, esforcem-se por manter na assembleia um clima de serena devoção, e atuem com a devida prudência, quando se verificarem curas entre os presentes. Terminada a celebração, poderão recolher, com simplicidade e precisão, os eventuais testemunhos e submeterão o facto à autoridade eclesiástica competente.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sem estimular choramingos, labaxúrias ou berros estridentes. O clima da celebração deve manter-se o mesmo de toda celebração litúrgica, principalmente da Eucaristia: silencioso, devocional, piedoso e amoroso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto ao número 3, das homilias artificiais, escandalosas e destoantes da Liturgia da Palavra no dia.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Papa Bento XVI nos fala na Sacramentum Caritatis (SC) e na Verbum Domini (VD) sobre a natureza das homilias:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>1) A sua «função [portanto, o seu fim] é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fiéis» (SC n. 46 e VD n. 59).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>2) «A homilia constitui uma atualização da mensagem da Sagrada Escritura, de tal modo que os fiéis sejam levados a descobrir a presença e eficácia da Palavra de Deus no momento atual da sua vida» (VD n. 59).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>3) «tenha-se presente a finalidade catequética e exortativa da homilia» (SC n. 46). A respeito do caráter exortativo, a VD menciona a conveniência de, mesmo nas breves homilias diárias, «oferecer reflexões apropriadas […], para ajudar os fiéis a acolherem e tornarem fecunda a Palavra escutada» (n. 59).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>4) Um ponto importante sobre o foco central da homilia: «Deve resultar claramente aos fiéis que aquilo que o pregador tem a peito é mostrar Cristo, que deve estar no centro de cada homilia» (VD n. 59).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por tanto, não há lugar na homilética litúrgica para homilias como as que costumam figurar nestas Missas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto ao número 4, dos novos momentos na ação litúrgica.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não raro, os sacerdotes que se dispõem a este show de horrores na liturgia costumam introduzir momentos estranhos à ação litúrgica que se celebra. Segundas homilias, interrupções à oração eucarística, etc.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quanto a isso a Instrução Geral do Missal Romano é clara e direta (IGMR 46 à 90), indicando que a Santa Missa consta das seguintes partes:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<ul>
<li>Ritos Iniciais (entrada, saudação, ato penitencial, Kýrie, Glória e oração coleta);</li>
<li>Liturgia da Palavra (leituras bíblicas, salmo responsorial, aclamação ao Evangelho, proclamação do Evangelho, homilia, profissão de fé e oração universal);</li>
<li>Liturgia Eucarística (preparação dos dons, oração sobre as oblatas, oração eucarística, rito da Comunhão oração dominical, rito da paz, fração do Pão e Comunhão);</li>
<li>Rito de Conclusão (notícias breves, saudação e bênção do sacerdote, despedida da assembleia, beijo no altar).</li>
</ul>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nem dentro nem fora destes momentos a liturgia aceita quaisquer inovações. Algumas celebrações, em especial as pontificais, possuem de fato momentos adicionais mas, no entanto, foram especificamente descritos pela Santa Sé nos livros litúrgicos (Cerimonial dos Bispos, Pontifical Romano, Ritual de Bênçãos, etc) e se prestam à finalidade sacramental para a qual foram criados, em conformidade com a Doutrina e Tradição de sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto ao número 5, da exposição do Santíssimo Sacramento no ostensório ainda durante a Missa.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre o uso da exposição do Santíssimo Sacramento, ou procissão sem o fim para o qual reza a norma, que é a adoração, a Santa Igreja considera ilegítimo, como está abaixo, no Documento do Cardeal Ratzinger já citado anteriormente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“[…]Também estas celebrações são legítimas, uma vez que não se altere o seu significado autêntico. Por exemplo, não se deveria pôr em primeiro plano o desejo de alcançar a cura dos doentes, fazendo com que a exposição da Santíssima Eucaristia venha a perder a sua finalidade; esta, de fato, «leva a reconhecer nela a admirável presença de Cristo e convida à íntima união com Ele, união que atinge o auge na comunhão sacramental”».</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Oras, se o auge da união com Cristo se atinge na comunhão sacramental, e esta é parte da Celebração Eucarística, é para Cristo dentro de si que se deve olhar e não para fora! Isto porque “aqui dentro” ele está mais próximo do que “ali fora”. Por tanto, o rito de exposição do Santíssimo Sacramento não cabe na Santa Missa (salvos os casos pontificais presentes nos textos litúrgicos) pois distancia o fiel desta realidade íntima da presença real de Cristo em si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quanto ao número 6, dos gestos alheios às prescrições do Missal Romano.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A IGMR é clara:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>42. Os gestos e atitudes corporais, tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do povo, visam conseguir que toda a celebração brilhe pela beleza e nobre simplicidade, que se compreenda a significação verdadeira e plena das suas diversas partes e que se facilite a participação de todos[52]. Para isso deve atender-se ao que está definido pelas leis litúrgicas e pela tradição do Rito Romano, e ao que concorre para o bem comum espiritual do povo de Deus, mais do que à inclinação e arbítrio de cada um. A atitude comum do corpo,que todos os participantes na celebração devem observar, é sinal de unidade dos membros da comunidade cristã reunidos para a sagrada Liturgia: exprime e favorece os sentimentos e a atitude interior dos presentes.”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, cremos ter justificado conforme o ensinamento da Igreja que: não, Missa de Cura e Libertação NÃO PODE.</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-54204252715222357292015-12-03T22:41:00.000-03:002020-03-29T15:16:19.401-03:00Apologética do Futuro: o menino que queria se casar com uma robô<div style="text-align: justify;">
Definitivamente não é fácil ser um padre católico nestes tempos. São cinquenta anos de ordenação, oitenta de católico e mais de 100 anos de vida seu Manoel. Estamos no ano 2100 e o povo ainda me aparece com essas perguntas absurdas? Ah seu Manoel, parece o tempo em que os Católicos discutiam se homem pode casar com homem, vê se pode? Hoje mesmo apareceu um jovenzinho aqui na paróquia, disse que queria conversar. Eu o recebi no meu escritório e eis que ele começa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Padre Alexandre eu preciso muito falar com o Senhor…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Oras, mas fale logo então meu filho. Tu não já tá aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pronto, era o que ele precisava para desatar a falar do seu relacionamento. Disse que se sentia feliz, que finalmente havia encontrado a pessoa que ele amava. Falou maravilhas da “pessoa” por quem estava apaixonado, delirante. Como um bom padre, fiquei feliz por ver um jovem já se preparando para casar, constituir família. Aí foi que apertou seu Manoel, quando eu quis saber quem era a felizarda por conquistar aquele bom rapaz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– É aí que está o problema, Padre…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gelei na hora né, pensei que tinha voltado no tempo e ia ouvir de novo aquela história de “sabe o que é Padre, eu gosto de um menino e queria casar na Igreja…”, e já fui logo cortando, dizendo que ele era Católico e que eu mesmo o havia catequizado e muito bem, pra não me vir com absurdos. Então ele jogou a bomba de lá pra cá:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Que é isso Padre, eu sou homem! Eu gosto é de uma menina, mas ela…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Ela o que filho de Deus? Tem um pinto?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Mais aí não seria menina, né Padre? Deus é mais…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Pois então fale logo homem, que eu não sei o que você quer dizer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Ela é um robô Padre…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tá certo, eu sou velho e pensei que já tinha visto de tudo na minha vida seu Manoel: errei feio. Nunca tinha passado pela minha cabeça que esse absurdo ia parar aqui na minha paróquia e que eu é que ainda ia ter que ouvir, se ao menos fosse o vigário a estar lá aquela hora… Não teve jeito, o menino parecia apaixonado mesmo. Na minha época de juventude, quando nem pensava em ser padre, nós conversávamos sobre essa possibilidade. Mas isso foi o que, lá pelo anos 2010…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que eu fiz seu Manoel? Peguei o catecismo oras. Não ia perder tempo explicando o que já tinha sido dito tantas vezes. Falando nisso, eu acho que precisamos atualizar esse catecismo de 1992 pra poupar os padres desse trabalho. Falei logo pra ele:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Olha aqui meu filho, eu nem imaginava que você fosse namorar um robô. Tá certo que hoje todo mundo tem um em casa, eu mesmo tenho a faxineira aqui mas, veja, são máquinas que você faz com a sua mão. O amor reservado aos esposos, verdadeiro, só pode existir entre pessoas que são obra de Deus e de sexos opostos. Na minha época, tinha gente que se apaixonava por muro, bicicleta e até brinquedos sexuais, o que se você pensar bem, dá no mesmo que se apaixonar por um robô…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Mas Padre, eu a amo de verdade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Eu não disse que você não ama criatura, eu falei que esse amor que você sente não é o amor de esposos. É um amor que não pode dar frutos senão pelas obras do homem meu filho. Deus falou através da Igreja no catecismo aqui ó:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>"§1625 Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher batizados, livres para contrair o Matrimônio e que expressam livremente seu consentimento."</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Tá vendo, homem e mulher! Nada de homem com homem, mulher com mulher, gente com robô, cachorro ou o diabo que seja. É um homem e uma mulher. Eu entendo que você se sinta apaixonado e que tenha sentido prazer nessa relação, mas a ordem das coisas de Deus não muda. Nem a Igreja pode mudar. E se eu bem te conheço, tu é CA-TÓ-LI-CO, viril, e tem coragem pra escolher Jesus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– É verdade Padre, mas eu gosto dela…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Então vá aprendendo a desgostar, vá rezando e pedindo a Deus que mande a sua Maria, a mulher que vai encher esse presbitério aí na frente de criança pra eu batizar. Aprender a separar os amores, amando mais a Deus!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pois é seu Manoel, saiu de lá quieto sem dizer mais nada. Mas o que eu podia fazer? Só disse a verdade. Depois eu fiquei sabendo que ele terminou lá o relacionamento e estava agora se engajando no movimento TLC e gostando de uma garota de lá, olha que alegria! Enquanto isso eu vou levando a vida, esperando pra ver qual vai ser a próxima invenção do povo. Deus lhe abençoe seu Manoel, outra hora proseamos melhor e lhe conto uma nova. Vá com Deus!</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-22778521156522331672013-08-27T22:02:00.001-03:002020-03-29T15:33:24.630-03:00Se queres empregar bem tua vida, pensa morte<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<i>“Estando embora vivos, somos a toda hora entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus apareça em nossa carne mortal.” (2 Coríntios 4:11)</i></div>
<br />
<br />
<span style="text-align: justify;">O significado do antigo ditado maçônico que intitula este texto é talvez a base de todo o estudo esotérico da Via Cardíaca. Compreender a natureza da transfiguração não é um trabalho simples pois exige de nós a aceitação de verdades dolorosas que compõem não somente a parte intelectual do nosso trabalho, mas também sua parte prática.</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estas verdades dizem respeito ao maior de todos os tabus: a morte. A incompreensão deste ser-ideia tem levado o homem ao erro da vida pela vida, que o encaminha a uma existência vazia de sentido e significado, baseada e cunhada na simples valoração social. O medo da morte torna-a mistério, quando na verdade é vida e luz primordial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O propósito de nosso santo trabalho é a obtenção de um estado puro de espírito, onde aquilo que deveria ser ceifado, foi, e de tudo sobrou apenas a alva luz do Cristo. No entanto, para este processo, tanto ser iniciado quanto continuado, é necessário que nos entreguemos a um processo de aprendizado e auto-domínio lento e contínuo que culmina na morte das paixões.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se virmos nossa vida como um ciclo, perceberemos que a morte física é apenas um ponto no ciclo de nossa vida espiritual. No entanto, esta morte física não é a morte que buscamos já que é transitória e refere-se somente aos nossos corpos corruptíveis. Em vida, buscamos uma morte mais sutil, que lida com nossos corpos incorruptíveis e que os fortalece por ação direta da luz Divina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos nós estamos, em vida, dominados pelo arquétipo das paixões: “O Diabo”. E mesmo que já tenhamos identificado em nós nossas potencialidades superiores e ponderado na balança da Justiça a nossa vida, não será o todo necessário tomar ciência de Samsara. É necessário, para que as paixões sejam dominadas, passar pela Morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A morte com a qual lidamos é santa. A religião Hindu a vislumbra como Kali: a Deusa mãe cujo maior poder e maior ocupação é matar os demônios e beber-lhes o sangue. Sendo esta alegoria deveras consternante para a mentalidade ocidental, ela é próxima daquela desvelada por Yeshua: é preciso que cada um de nós morra na cruz para que neste testemunho de fé morram conosco os nossos demônios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este processo é então a parte maior da Obra. Alquimicamente costuma-se dizer que nenhum alquimista que tente dominar as intricadas reações em seu cadinho terá sucesso se não dominar suas equivalente dentro de si. Para viver então é preciso morrer? Resposta curta: sim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Arduamente o Estudante transforma seu caminho em uma Via Crucis: entrega sua vida à Grande Obra, morrendo, como disse o apóstolo, a toda hora. O Ego inferior, cuja vida e existência impõe a morte sobre o Eu superior não é um corpo simples contra o qual basta desferir um único golpe para que sua morte seja certeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nosso trabalho é como o de Kali: matar um demônio por vez, decepando-lhe a cabeça e sorvendo deles a essência pura, o sangue de onde extraímos a matéria para construção da Pedra. O apóstolo Paulo nos escreveu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão.”</div>
<div style="text-align: justify;">
Hebreus 2:14-15</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desta forma torna-se firme o caráter e calma a mente. Livre daquele que possuía os grilhões de uma vida morta, o Estudante caminha, passo após passo, por uma estrada onde vai morrendo para si e para o mundo, iniciando uma nova vida, ressurreto, da mesma forma que o Cristo Jesus pois, fez em si a verdadeira vinda do Reparador.</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-22128997176135434012013-07-23T16:15:00.001-03:002021-12-16T00:38:19.858-03:00O Pensamento e a Realização<p>Tudo o que inventamos, segundo Jiddu Krishnamurti, é fruto do pensamento. Desde as máquinas que nos servem aos rituais e símbolos na Igreja, tudo foi colocado lá pelo pensamento.</p><p>Inclusive a nossa visão de Deus foi criada pelo pensamento, moldada pelas diversas frustrações e imposições (sociais ou não). Neste aspecto, nada é verdadeiramente sagrado, de acordo com a lógica de J. Krishnamurti.</p><p>De certo que não podemos negar a veracidade destas afirmações, mas podemos analisá-las e chegaremos a uma conclusão que talvez seja a mesma do próprio Krishnamurti: se o pensamento gera tantos erros, mas é só a partir dele que podemos vivenciar e compreender o mundo (através do exercício da inteligência), a realidade do sagrado só pode ser experimentada em completa liberdade (de pensamento). Somente quando estivermos livres dos estabelecimentos, do medo, do vício, é que poderemos efetivamente perceber o “senso de amor” que permeia todas as coisas.</p><p>Estes momentos de liberdade só se manifestam quando a mente está completamente quieta e, por este motivo, o sagrado só se manifesta verdadeiramente no silêncio. O sagrado não é apenas “mais uma coisa” que acontece em nossa vida e percebemos com nossos sentidos inferiores, mas uma benção que ultrapassa nosso senso comum, manifestando em nós capacidades, sensoriais e ativas, antes adormecidas.Neste quesito, o próprio Krishnamurti não conseguiu alcançar a realidade do sagrado pois nunca foi capaz de vencer um de seus mais fortes estabelecimentos: a repulsa às religiões.</p><p>De certo modo, é compreensível que o barulho imenso causado pelas diversas adições desnecessárias aos rituais e à incompreensão da natureza dos ensinamentos religiosos tenha afastado tantas boas almas da suprema realização. No entanto, cabe a nós fazer a breve observação de que: o sagrado ocorre em momentos. Desta forma, até mesmo o mais sutil dos ensinamentos pode ser capaz de fazer-lhe silêncio na alma. E como nos ensina a Mística Católica, para permanecermos no estado de graça, é necessária uma busca incessante pela santidade.</p><p>Muitos pressupõem que o ascetismo necessário à esta busca transcende a natureza do homem comum, mas se enganam aqueles que veem somente um caminho bifurcado à frente da estrada humana. A busca incessante não requer o puro ascetismo e amor ao sofrimento, características dos santos e santas, mas um empenho diário em fazer cada momento da vida mais silencioso e, por consequência, mais sagrado.</p><p>A sacralidade da vida se dá nos pequenos momentos em que nossa alma silencia, e nossa centelha vira chama ativa e modificadora.</p>Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-38792347427932387072013-05-29T16:10:00.001-03:002020-12-14T16:12:32.407-03:00A Revolta dos Eus Internos – Arcano 0<p> Tudo em nossa vida exige força, potência. O que move o mundo não é a preguiça e a procrastinação. É a vontade de fazer, mudar, criar, ser, ouvir, viver que faz com que cada peça do grande quebra-cabeça humano se encaixe com perfeição na diferença.</p><p>Por mais que seja inacredincrível a incapacidade humana de aceitar que a igualdade só nasce na diferença, cada um de nós mantém a tendência consciente de se individualizar em busca do seu ser. Quando falta ciência, a consciência sofre e se inicia o processo de massificação.</p><p>Moda, mediana, média. A sociedade é movida por padrões de equivalência e não de igualdades. Somos todos congruentes, não idênticos. A falta de estímulo intelectual é o que faz com que o massificado seja tão fascinante. No entanto as obras que realmente tem seu valor reconhecido são as únicas. Aquelas que ultrapassam QUALQUER barreira do igual.</p><p>Mas espere, não é tudo arte? Claro que sim! No entanto o refinamento se dá na individualidade. Na força necessária para SER e não deixar ser. Não seja Gremista, Petista, machista, feminista. Seja você e permita que todos os seus eus, diferentes faces de você mesmo se manifestem individualmente. Não os deixe impedir o nascimento do verdadeiro Você.</p><p>Peço que me deixe ser Eu, sendo você. Eu preciso que você compreenda isto para que eu possa me sentir liberto. Não me importar não é uma opção, deixar levar é só tortura. Quero você comigo, igual a mim na diferença. Vamos ser nós, sendo Eu e Você.</p><p>Somente quanto deixarmos de massificar nosso pensamento, nosso corpo, nossa alma é que poderemos ver o espírito florescer e descentralizar toda a potência. Cada um de nós é um criador e só quando temos a plena certeza de que sim, eu me deixarei ser, é que se pode dizer de pleno fôlego e alma que a tolerância é uma palavra de Lei.</p><p>Tolerar o outro exige tolerar-se a si mesmo. Aprenda a digerir você e respirar o mundo, pois está é a verdadeira fonte da força necessária para ver no mundo um novo mundo, em mim um novo Você e em tudo um novo Nós. E assim, surgirão curas, loucuras e sentimentos. Pois teremos verdadeiro empenho e prazer em descobrir, desvelar e</p><p>DESPROCRASTINAR.</p>Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-19379218966200455012013-01-23T16:49:00.000-03:002020-04-23T16:55:39.854-03:00Pratyaya e Vritti: as duas naturezas do pensamento<div style="text-align: justify;">
O impulso humano para a ação é composto de pelo menos duas polaridades: a interna, que reflete os desejos e a Inspiração; e a externa, que reflete a influência das múltiplas vibrações exteriores ao homem que influem sobre a sua mente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nenhuma ação é puramente exterior, por influência alheia, pois tudo que é Karma (ação), incluindo aí o akarman, é derivado do Pratyaya (temperamento) e do Vritti (reação). O que se diz então é que o homem possui “duas mentes”, partes integrantes da manifestação do Manas (pensador).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estes conceitos equacionam-se com a natureza do corpo psíquico do ser humano. Sua função é conectar a natureza inferior do homem e o mundo exterior à sua natureza superior e única. No entanto, a forma como se constitui o impede, em primeira mão, de permitir uma visão real do mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se imaginarmos a mente humana, analogamente, como uma cebola ou um alvo, onde suas “partes” se unem formando um todo bem definível em si, veremos, no centro de todas as partes o Manas. Manas é o que grande parte das escolas ocultistas do ocidente costuma nomear “corpo astral”. Este corpo é nossa parte ultrapessoal e ultraindividual, cuja natureza é única em toda a Criação. É a “alma” que “desperta” o corpo físico. Em termos mais simples: Consciência.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-nO8SibBWvhg/XqHv5KZCUaI/AAAAAAAAaKY/hShGm6IpRr88nAOJQuQ5QR3hQ7TP-7QrACLcBGAsYHQ/s1600/esquema.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="316" data-original-width="399" src="https://1.bp.blogspot.com/-nO8SibBWvhg/XqHv5KZCUaI/AAAAAAAAaKY/hShGm6IpRr88nAOJQuQ5QR3hQ7TP-7QrACLcBGAsYHQ/s1600/esquema.PNG" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por ser único e de natureza sutil, Manas precisa de formas intermediárias de manifestação. Ao contrário das duas outras partes da Individualidade, manas não é impessoal. Ele não representa a essência em si, mas a forma pela qual a essência se manifesta. Isto significa que Manas não é um corpo divino, mas a manifestação da natureza divina. É intermediário entre os dois mundos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para manifestar-se no corpo físico, a mente que surge ao redor de Manas necessita de dois princípios:</div>
<div style="text-align: justify;">
um mais próximo do mundo exterior e outro mais próximo do mundo divino. Estes dois princípios formam o que costumamos nomear Pensamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A natureza mais próxima de Manas é Pratyaya. Pratyaya é o que chamamos no ocultismo ocidental de Temperamento. É a parte de nosso pensamento/comportamento que nasce conosco. É manifestado através de quatro princípios básicos, análogos aos elementos da Tradição do ocidente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-CI8-RkW1BIE/XqHwTS6PDKI/AAAAAAAAaKg/OxMJIiZcLf4RX8p4W7krd-Ul0n6xkWUfACLcBGAsYHQ/s1600/elementos.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="344" data-original-width="416" src="https://1.bp.blogspot.com/-CI8-RkW1BIE/XqHwTS6PDKI/AAAAAAAAaKg/OxMJIiZcLf4RX8p4W7krd-Ul0n6xkWUfACLcBGAsYHQ/s1600/elementos.PNG" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div>
Esta parte/natureza de nosso pensamento é imutável. Nasce conosco, e morre conosco. Suas nuances são expostas nos aspectos de nosso Tema Natal e demonstram a forma básica de nossa mente. Prityaya pode ser vista como a semente do homem que virá a ser, pois manifesta-se já na menor infância.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div>
Além de Prityaya está Vritti. Vritti é o pensamento/natureza moldável, que se associa ao temperamento e está mais próximo do mundo material. Representa a ligação entre o mundo exterior e a nossa natureza interior. Nossa educação, nossas relações, e tudo que vem do mundo inferior causa impressões em Vritti. Estas impressões, sempre de natureza única, permanecem armazenadas em nossa memória e vão, de acordo com o temperamento manifestado por Prityaya, definir a ação que tomaremos com base em nosso pensamento.</div>
</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div>
É impossível alterar Pirtyaya. Nosso temperamento é único e definido. No entanto, conhecê-lo é um passo importante para permitir-nos que nossa consciência efetivamente atue seletivamente sobre aquilo que recebemos do mundo e que impressiona Vritti. Não somos receptores perfeitos nem emissores perfeitos. Aquilo que impressiona o nosso corpo astral e perpetua-se em nossa roda de encarnações é uma mistura daquilo que somos ao nascer e daquilo que nos tornamos com o tempo.</div>
</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div>
Por isso é tão importante aprender a dominar as nossas duas mentes. Entender como estas duas partes de nosso pensamento se unem em um padrão de comportamento define como nós encaramos o mundo e como somos capazes de fazer com que o mundo nos sinta, encare e reaja à nós. Apesar de não ser possível fazer com que as duas naturezas sigam o mesmo caminho, conhecendo a forma como as duas se manifestam na forma de Movimento (ação) é possível fazer com ambas sirvam ao mesmo propósito e que o Carro (mente) se encaminhe na direção correta.</div>
</div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-SHT_EWkYFvU/XqHxJQkK-cI/AAAAAAAAaKs/3nKe9UbzrvA2Z7bhrXV2YsAzwWbK3Ti4QCLcBGAsYHQ/s1600/o_carro.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="314" data-original-width="188" src="https://1.bp.blogspot.com/-SHT_EWkYFvU/XqHxJQkK-cI/AAAAAAAAaKs/3nKe9UbzrvA2Z7bhrXV2YsAzwWbK3Ti4QCLcBGAsYHQ/s1600/o_carro.PNG" /></a></div>
<div>
<br /></div>
</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-37716380017137902332012-12-20T16:20:00.002-03:002020-12-14T16:22:09.603-03:00Relações entre Ciências Ocultas e Ortodoxas<p>O avanço nos estudos da Senda nos trazem certos questionamentos e percepções. Talvez a mais comum em tempos de avanços tecnológicos constantes seja a de que há uma relação a ser construída entre a Ciências Ortodoxas e as Ciências Ocultas.</p><p>Na ciência oculta, se algo pode ser feito, será. O proselitismo e o dinheiro não tocam (ou não deveriam tocar) os domínios das ciências arcanas e não influem (ao menos diretamente) em seu fluxo.</p><p>Total inverso da ciência ortodoxa. Materialista por natureza, método e fundação, é também controlada pelo material. Vejamos bem:</p><p>Se um Iniciado descobre que algo pode ser feito, e compreende a natureza (tanto do feito quanto do algo) irá documentá-lo e, com sorte, conseguirá instruir ao menos um irmão de forma que o conhecimento se perpetue. Nas ciências ocultas não há PROPRIEDADE, ao contrário das ciências materiais. Existem sim, prioridades. E entre elas nada consta acerca do materialismo.</p><p>Isso não quer dizer, no entanto, que as ciências ocultas não se ocupam do material. Ao contrário! As ações operativas que alteram o plano físico são tão comuns quanto as ações meditativas que alteram os planos internos. No entanto, o foco do estudo oculto não se localiza na matéria, mas para além dela. Na verdade, muito além. As operações, feitas acima da concretude da matéria, atuam nela por associação de forças que, em geral, estão muito acima do puro magnetismo proposto por certos Irmãos.</p><p>A ciência ortodoxa, em sua materialidade expressa e gritante, atua diretamente sob o julgo do materialismo, atuando no mundo físico como ente participante da construção da realidade. A ciência mundana é fria, mas não desumana, refletindo o homem em sua natureza inferior. Sua natureza material permite que adentre campos onde as ações operativas das Artes Superiores dificilmente alcançam. Estes mesmo campos são alcançados pelo poder material e pelo dinheiro.</p><p>Isto é deveras interessante pois expõe aos nossos olhos o véu mais difícil de transpor: o véu da materialidade. A ciência ortodoxa debruça-se sobre átomos, moléculas, corpos e tecidos espaço-temporais. Conceitos que aplicam-se somente a esta existência e que não podem ser expandidos para os planos sutis. Acima do véu da matéria tudo opera sobre ela, no entanto, a capacidade humana necessária para puxar as energias sutis para o nosso plano, abaixo deste véu, de forma que sejam capazes de alterar forma e natureza, são avançadas a tal ponto que poucos foram os homens que provaram a existência desta capacidade (em geral, Avatares como Krishna, Jesus, Gautama Buda e outros Altos Iniciados que viveram neste mundo).</p><p>Isto não significa, no entanto, que a ciência ortodoxa nada tenha a fazer sobre isto. O seu local é acertado no mundo e sua entrega pela Providência não foi em vão. Seu avanço segue, em parte, o avanço da própria humanidade e prova-se, que quando o estudo é motivado pela Virtude (a mesma motivação do cientista oculto), seus frutos são tão poderosos quanto os frutos das Artes Superiores.</p><p>Não é de se espantar o tremendo potencial de modificação psicológica e social que é trazido pela descoberta, por exemplo, de uma cura para uma grande aflição. A natureza, em geral global, da ciência ortodoxa complementa a natureza, em geral individual e única, das ciências ocultas. No entanto, ambas são poderosos agentes modificadores da sociedade e podem, quando juntas (mas separadas) permitir uma visão tão ampla quanto possível humanamente.</p><p>São descobertas complementares, véus que se levantam nos dois caminhos. Lá, um novo avião reduz os custos do transporte de alimentos, favorecendo a chegada de mantimentos em regiões mais pobres. Do lado de cá, o desenvolvimento dos meios sutis permitem que o alimento espiritual chegue aos nossos Companheiros de Jornada.</p><p>Os perigos espreitam, obviamente, ambos os lados da Via Intelectual. Mas a sua natureza diferente nos permite que, ao tratá-las diferentemente, encontremos a igualdade entre suas naturezas. A ciência ortodoxa tem muito a aprender com a ciência oculta e talvez muitos de nós, cientistas ocultos, tenha miríades a aprender com o método científico tradicional.</p>Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-91614409531107166232012-12-04T22:12:00.000-03:002020-03-29T15:34:45.400-03:00Compreendendo o Cristo Histórico - Parte 1<div style="text-align: center;">
<i>Conhecereis a verdade e a verdade vos livrará. </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>João 8:32</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
No ano 15 do principado de Tibério (entre 28 e 29 d.C.), um asceta, João Batista, pôs-se a discorrer por toda a terra do Jordão, "proclamando um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados" (Lucas, 3:3). O historiador Flávio Josefo descreve-o como um "homem honesto", que exortava os judeus a "praticar a virtude, a justiça e a devoção" (Antiguidades judaicas, 18, v.2, 116-9). De fato, era João Batista um verdadeiro profeta, iluminado, irascível e veemente, em revolta declarada contra as hierarquias política e religiosa judaicas. Líder de uma seita milenarista, anunciava a iminência do Reino, mas sem reivindicar o título de messias. Seu apelo foi coroado de grande êxito. Entre as pessoas que, aos milhares, acorriam de toda a Palestina para receber o batismo, encontrava-se Jesus, originário de Nazaré, na Galileia. Segundo reza a tradição cristã, João Batista reconheceu nele o messias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sabemos por que motivo Jesus se fez batizar. É certo, porém, que o batismo lhe revelou a dignidade messiânica. Nos Evangelhos, o mistério dessa revelação é traduzido pela imagem do Espírito de Deus descendo como uma pomba e por uma voz dos céus, que dizia: "Este é o meu Filho amado" (Marcos, 1:12; cf. Marcos, 1:11; Lucas, 3,22). Logo depois do batismo, jesus retirou-se para o deserto. Esclarecem os Evangelhos que ele foi "impelido para o deserto pelo Espírito", para ser tentado por Satanás (Marcos, 1:12; Mateus, 4:1-10; Lucas, 4:1-13). O caráter mitológico dessas tentações é evidente, mas seu simbolismo revela a estrutura específica da escatologia cristã. Morfologicamente, o argumento é constituído de uma série de provas iniciatórias, análogas às de Gautama Buda. Jesus jejua durante 40 dias e 40 noites, e Satanás o "tenta": pede-lhe primeiro milagres ("manda que estas pedras se transformem em pães"; leva-o a Jerusalém e coloca-o sobre o pináculo do Tempo, dizendo-lhe: "Se és Filho de Deus, atira-te abaixo") e, em seguida, oferece-lhe o poder absoluto: "Todos os reinos do mundo e a glória deles." Em outras palavras, Satanás oferece-lhe o poder de destruir o Império Romano (e portanto o triunfo militar dos judeus anunciado pelos apocalipses) desde que Jesus se postre diante dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus praticou o batismo durante algum tempo, tal como João Batista e provavelmente com maior sucesso (cf João, 3:22-4; 4:1-2). Mas, ao saber que o profeta fora preso por Herodes, Jesus deixou a Judeia e dirigiu-se para sua terra natal. Explica Flávio Josefo que o gesto de Herodes fora de medo: receava a influência de Batista sobre a massa e temia uma rebelião. Seja como for, sua prisão de azo à pregação de Jesus. Desde sua chegada à Galileia, proclamou Jesus o Evangelho, ou seja, a Boa Nova: "Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho". A mensagem expressa a esperança escatológica que, com poucas exceções, dominava a religiosidade judaica fazia mais de um século. Depois dos profetas, depois de João Batista, predizia Jesus a iminente transfiguração do mundo: temos aí a essência de sua pregação.</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-26057635781810779162012-11-21T09:23:00.001-03:002020-03-29T15:35:43.424-03:00As três naturezas da ação: Naiskarman, Vikarman e Akarman<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Dentre todas as belas análises dentro do Bhagavad Gita, aquela que mais nos chama a atenção é, na realidade, o tema básico de toda a filosofia cósmica da Índia: o reto-agir (naiskarman) substituindo o falso-agir (vikarman) e o não-agir (akarman).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Existe no Oriente uma tendência de passividade, nascida da convicção de que todo o agir do homem profano é negativo, mau, pecaminoso, porque o homem profano age em nome de seu ego e por amor a ele, que é uma ilusão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Krishna, porém, e outros mestres iluminados não advogam essa passividade do não-agir, mas recomendam uma terceira atitude, equidistante do falso-agir do profano e do não-agir do místico; insistem no reto-agir do homem cósmico. O reto-agir consiste em agir em nome e por amor do Eu central (Atman) do homem, embora o ego periférico (Aham) possa servir como canal e veiculo dessas águas vivas que emanam da fonte divina do homem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para que seja possível essa terceira atitude do homem, é indispensável que ele conheça intuitivamente o seu Eu central, que em sânscrito se chama Atman, nos livros sacros do cristianismo aparece como a alma ou espírito, e na filosofia e psicologia ocidental é denominado Eu (Self, Selbst). No evangelho do Cristo, esse Eu central do homem aparece muitas vezes como Pai, Luz, Reino de Deus, Tesouro Oculto, Pérola Preciosa, etc.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando o homem age em nome desse seu Eu divino e por amor a ele, embora pelo ego humano, não somente não acumula debito ou karma, mas também se liberta dos débitos do passado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De maneira que, no Bhagavad Gita, Krishna atinge o zênite da auto-realização do homem baseado no mais alto conhecimento do seu ser divino formando perfeito paralelo às palavras do Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-18805104661268494792012-11-19T20:03:00.000-03:002020-03-29T15:35:15.044-03:00O Mundo - O Livro dos Abraços<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>O mundo é isso</i> - revelou. - <i>Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<i><span style="font-size: x-small;">Retirado do Livro "O Livro dos Abraços", de Eduardo Galeano.</span></i></div>
</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-62563826710978976012012-09-21T23:59:00.003-03:002020-03-29T15:41:45.059-03:00A importância dos Diários de Práticas<div style="text-align: justify;">
<div style="height: 0px;">
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">O processo de escrita de um diário de práticas é talvez o procedimento mais esquecido dentre os círculos de estudo atuais. Muitas vezes nos questionamos se obtivemos efeitos oriundos de nossas práticas e a resposta para esta pergunta não pode ser obtida se não tivermos com o que comparar e nivelar supostos efeitos. Para que possamos fazer isto, a ferramenta que devemos utilizar é nada mais nada menos que o diários de práticas. Sua construção e uso não é o foco deste artigo, mas sim a importância de construirmos tal ferramenta e como seu uso influencia nossos resultados e avanços na Senda.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Paremos por um momento para imaginar uma repartição pública. Esta repartição será a sua mente. Olhando por fora ela parece um prédio muito belo e organizado, mas se olharmos por dentro e com calma, veremos que a confusão é generalizada. Onde deveriam estar arquivos muito bem datados e guardados, estão pilhas e mais pilhas de pastas que nunca foram organizadas. Como estas pilhas são muito grandes, não podemos esperar que, mesmo utilizando o máximo de sua força, você seja capaz de organizar tudo em tempo hábil para poder receber novas pastas sem que elas formem novas pilhas.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Assim são nossos pensamentos e lembranças. Pilhas de arquivos guardados na mente que podem ser perdidos se o menor sopro de vento adentrar o prédio. Mas, como podemos organizar estes arquivos? Demandaria muito tempo de meditação para que colocássemos tudo em ordem correto?</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Correto! E é aqui que entra o nosso diário de práticas. Vamos brincar um pouco? Vamos lá: imagine-se então como supervisor desta repartição pública. É terrível ver todo este caos: você não é capaz de medir a eficiência de seus funcionários, pois os arquivos que contém as informações necessárias estão tristemente organizados. É preciso fazer algo. Você decide então catalogar estes arquivos. Como novas pastas chegam à sua mesa a todo o tempo, você considera melhor deixar os arquivos antigos para um momento em que tenha um pouco mais de tempo. Vais até uma estante e escolhes um caderno limpo para que possas começar o trabalho de catalogação.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Cada relatório que chega a sua mesa é catalogado de forma que toda a informação possível acerca do trabalho feito por um de seus funcionários seja registrada. De repente você percebe que apenas um caderno não poderá refletir a realidade e organizar todos os dados. Você decide então listar os departamentos e escrever um caderno para cada um deles. Afinal, as finanças não podem se misturar com os recursos humanos não é? Se for preciso construir uma ponte entre eles, você decide que criará um caderno só para isso.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Seu trabalho vai muito bem e você percebe que agora é capaz de saber exatamente se um funcionário tem sido eficiente, quando seu desempenho melhora ou piora. Tudo com um acompanhamento diário que lhe permite, inclusive, compará-lo com funcionários do mesmo departamento ou de outros. Quando consegues algum tempo livre, você para e começa a organizar os arquivos antigos que estão nas salas do fundo do prédio.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Seu trabalho tem sido maravilhoso! No fim de um ano, ainda há alguma bagunça em sua repartição… Afinal, isso é normal não é? Mas agora você tem controle quase absoluto sobre tudo que acontece por lá.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Se compararmos nossa vida a esta repartição veremos o quão importantes são os diários de práticas. Através dos registros que fazemos neles somos capazes de observar, passo a passo, nosso caminho na Senda. Podemos medir os efeitos sensíveis e visíveis de nossas práticas e efetuar comparações entre elas.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Assim como as informações dos serviços feitos na empresa, devemos listar toda e qualquer informação que nos pareça relevante para construir um panorama geral acerca do que tem acontecido em nossa vida. Obviamente, o passado forma pilhas muito grandes para que possamos parar e catalogar tudo juntamente com as novas informações que nos chegam.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Por isso, além de catalogar nossas novas experiências em diários específicos, a prática meditativa constitui peça chave para que nossos diários de práticas desempenhem o máximo de sua eficiência. Através da meditação, podemos acessar aquelas salas no fundo da repartição e trabalhar com os arquivos mais antigos.</span><br />
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><br /></span>
<span style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">Assim, somos capazes de manter tudo no eixo e ter a certeza de que nossa perseverança tem constituído resultados em nossa vida. Que tal começar um diário hoje?</span></div>
</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-57551543237347752722012-09-21T23:26:00.003-03:002020-03-29T15:42:13.232-03:00A Utilidade das Músicas e dos Sons<div style="text-align: center;">
<em style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;">“A música, quando tocada pelos músicos, é uma coisa um pouco como a vida: uma presença fugaz que existe enquanto o músico escuta o som. Há um silêncio interior e depois, após acabar o trabalho, a música desapareceu.”</em></div>
<div style="text-align: center;">
<em style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans;"><span style="font-size: x-small;">Madredeus.</span></em></div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em; text-align: right;">
<span style="text-align: left;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: left;"><span style="background-color: white; line-height: 20.66666603088379px;"><br /></span></span>
<span style="text-align: left;"><span style="background-color: white; line-height: 20.66666603088379px;">Tudo que existe obedece a um ritmo. Uma frequência estabelecida através da qual o movimento se manifesta. O ritmo, qualquer ritmo, é o passo que a natureza dá às suas obras, tornando-as engrenagens de um mecanismo maravilhoso, cujas peças funcionam, cada uma a seu tempo, formando a gigantesca realidade que chamamos de Universo.</span></span></div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
A obra exposta acima é a foto do comportamento de um líquido extremamente viscoso, chamado líquido não newtoniano. Este tipo de líquido altera sua viscosidade de acordo com a pressão exercida sobre ele. Neste caso específico, a mudança na aparência e viscosidade do líquido foi induzida por nada mais do que o som!</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
O som é capaz de alterar muito mais do que o comportamento de um fluído. Ele é capaz, por exemplo, de ordenar a trajetória de uma única partícula subatômica no espaço. Desta forma, o som possui uma miríade de aplicações, mas nenhuma delas é tão pura e humana quanto a música.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Desde os primórdios da humanidade, o ritmo faz parte do cotidiano do ser humano. Os ritmos apresentam-se em todos os aspectos da existência humana, mas foi com a descoberta da música que passamos a aplicar conscientemente o ritmo em diversas áreas da vida.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<span id="more-9455"></span></div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
A música surgiu, originalmente, como uma acompanhante inseparável do trabalho. Seu papel era orientar os membros de um grupo a trabalharem todos no mesmo ritmo. Esta orientação facilitava o trabalho conjunto, unindo o grupo e levando-o a agir como um só ser.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Esta aplicação da música foi herdada pelas gerações posteriores e foi, por fim, importada e incorporada pelas religiões. Nestas, a música cumpre o papel de harmonizar o eixo energético do corpo humano, alinhando a mente dos participantes do culto com o princípio trabalhado no ritual. Desta forma, a música induz nos membros da assembleia, o mesmo efeito que induz nos trabalhadores: forma uma única mente, coletiva, vibrando em uma frequência específica e determinada, voltada para o trabalho a ser feito.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Diversas religiões desenvolveram suas próprias “peculiaridades sonoras” utilizando o som para induzir estados diversos na mente coletiva. Inúmeros casos podem ser citados, sendo o mais notável deles, o canto gregoriano, desenvolvido pelos sábios do Cristianismo.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
O conceito é simples: tons específicos, induzindo estados mentais específicos. Este conhecimento surgiu da observação do homem sobre si mesmo. Analisando cada estado, os seres humanos foram desenvolvendo diferentes instrumentos, escalas e ferramentas que tornaram a música cada vez mais elaborada, englobando uma gama cada vez maior de sentimentos.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Este conhecimento já foi a chave de grandes mistérios. Os mantras, cuja entonação precisa ser ensinada por um mestre, a fim de que os mesmos sejam vibrados corretamente, encerram em si um mistério muito maior do que aquele que está exposto em suas palavras. Os antigos construíram gigantescas mentes coletivas, que até hoje podem ser acessadas através destes sons.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Estas mentes coletivas ancestrais são poderosas o suficiente para causar alterações muito maiores do que uma mudança de humor quando alinhamos nossa mente com seus pilares. Este segredo não se restringiu aos orientais: foi descoberto também pelos filhos de Abraão e fortemente incorporado à cadência com a qual se pronuncia suas sagradas orações.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Devemos observar, por fim, que a música é um elemento humanizador, aspecto social que representa o poder colossal da coletividade humana. A música, objeto mental, é a força humana capaz de gerir o poder criativo do Ser, ritmando sua capacidade, e induzindo mudanças na realidade circundante, obra pura do pensamento humano.<br />
<br /></div>
</div>
<div style="background-color: white; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px;">
<i>Bibliografia:</i></div>
<div style="color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px;">
<i style="background-color: white;">NETTL, Bruno. “Music in Primitive Culture”</i></div>
</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: Arial, Verdana, Lucida, serif, sans; font-size: 12px; line-height: 20.66666603088379px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-72392354393966785982012-09-21T23:05:00.000-03:002020-03-29T15:42:46.595-03:00Andei perdido<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #232323; font-family: "arial" , "verdana" , "lucida" , serif , "sans"; line-height: 20.6667px;">Lá no fundo eu sabia de tudo: o mundo havia desmoronado. Eu havia esquecido, há muito tempo, que a vida dava voltas e que minha busca pelo poder cedo ou tarde iria acabar me levando para o fundo do poço. Mas não imaginei que eu afundaria tanto a ponto de só ver trevas até mesmo com os olhos da alma.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Talvez eu precise me lembrar de quando tudo começou… Sim! Preciso reviver aquela pureza que me levou a buscar a sabedoria. Eu era jovem e via tudo com a inocência de um pequeno cordeiro. E por isso mesmo era presa fácil para os lobos velhos. Queria aprender, devorava livros, buscava rituais e toda a pompa que via neles.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
As coisas foram ficando mais difíceis até que chegou um momento em que parei. Não conseguia avançar: não via o caminho pelo qual deveria trilhar. Até que me chegou alguém e me ofereceu a droga que embota o espírito: poder. Cantou-me mil maravilhas de seu método, disse-me que poderia ver o mundo e sua fundação com meus próprios olhos. Prometeu-me que eu, senhor do meu próprio ser, tomaria posse daquele poder que sempre havia sido meu.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
<span id="more-9869"></span>Eu não via falsidade em suas palavras. Só via o brilho de um ouro que eu deveria prever ser falso, afinal, os livros dos mestres sempre me alertavam dos riscos de tudo desejar. Não… Não via nada disso. Absolutamente nada. Estava cego pelo poder e por tudo que eu pensava almejar pelo bem do mundo.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Era um tolo que não conseguia ver meus próprios pensamentos e vontades. Era iludido por ritos vazios de sentido, homens vazios de si, vidas vazias de inspiração. Buscava um poder que pensava ser útil para mudar o mundo e torná-lo mais puro. Inocência mata. E descobri isso da pior maneira possível. Minhas intenções eram puras, mas meus métodos eram tão sujos quanto o inferno que àquela altura pensava ser o céu. Andei perdido por muito tempo…</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Em uma noite, solitário, pedia em minhas preces que a sabedoria divina inspirasse meu intelecto. Estava quebrantado por tanto sofrimento, tanta busca inútil. Pensava que o Universo havia esquecido de mim. Sentia o mundo me engolir e a dor me trouxe de volta à verdade: eu estava perdido. Não sabia para onde ir, para onde olhar.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Lembrei-me, que a muito tempo um sábio senhor havia me dito: os olhos da alma que chora e sofre são os olhos do Eterno, pois sua providência vê toda a miséria do mundo. Recordo-me bem do momento em que despertei para uma realidade, não cósmica ou universal; uma verdade muito minha e que se apoderava do meu intelecto gritando a alta voz: você não precisa disso.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Eu não precisava de livros para ser sábio, de ouro para ser rico, de tudo para ser feliz. Eu vi a mim, descobri o meu eu perdido no meio de tanto pó. Percebi que o que eu tanto buscava estava dentro de mim, que tudo não passava de ferramentas sujas e velhas.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
Fui crescendo, e percebi que meditando estava mais próximo do Todo, pois estava só eu e meu espírito. Percebi que lendo minhas ações era capaz de prever o futuro, pois via em mim um espelho do mundo. Atentei para o fato de que era rico por trabalhar e não por receber pelo meu trabalho, pois era do suor que emergia a Obra. Enxerguei que era vivendo que seria feliz, pois era a vida, o paraíso prometido.</div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
<em><strong>Andei perdido, mas encontrei o caminho ao olhar para meu coração.</strong></em></div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #232323; font-family: arial, verdana, lucida, serif, sans; line-height: 20.6667px; margin-bottom: 0.7em; margin-top: 0.7em;">
<div style="text-align: justify;">
<em>“[...]pois em teu favor ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos.”</em></div>
</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-82296408348845345512012-09-21T22:55:00.001-03:002020-03-29T15:12:15.372-03:00As sereias e os mares de Netuno<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<em style="border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">“Quando a divina Circe aconselhou Ulisses a evitar as Sereias, de voz maviosa e enfeitiçada, recomendou lhe que tapasse com cera os ouvidos de seus marinheiros para que eles não lhes ouvissem o canto. “Mas, se tu mesmo quiseres ouvi Ias, é preciso que eles te amarrem em torno do mastro da ligeira nave, de pé, com possantes cordas, para que possas ouvir com prazer as duas Sereias. Se, porém, lhes pedires ou ordenares que te soltem as cordas, mais fortemente eles te devem amarrar o corpo”</em></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<em style="border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-size: x-small;">(Odisséia, Canto XII)</span></em></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span id="more-11" style="background-color: transparent; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O mito das sereias tem relação direta com o signo de peixes e com seu regente Netuno. As sereias eram seres míticos cujo corpo era divido em duas partes, sendo a inferior a cauda de um peixe e a superior o tronco de uma mulher. Seu canto belíssimo e sua beleza atraía os navegantes para as profundezas dos mares onde, tragicamente, eram devorados por estes seres funestos.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Esta versão atual do mito das sereias é consideravelmente diferente das sereias dos tempos homéricos, onde as sereias (metade pássaro, metade mulher) tinham relação direta com o culto dos mortos (as sereias eram, muitas vezes, evocadas no momento da morte). Como todo mito, as sereias foram adaptadas de acordo com os costumes locais. E é exatamente a forma brasileira deste famoso mito grego que tentaremos analisar brevemente utilizando a astrologia como ferramenta.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Primeiramente, precisamos compreender a natureza dos signos e o signo diretamente associado à este mito. Os signos zodiacais são nada mais do que “campos” que demarcam as 12 substâncias básicas da psique humana. Podemos subdividir os signos em <em style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">triplicidades</em> que representam a forma como as características de cada elemento se apresentam em nossa psique.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Estas triplicidades são divididas de acordo com os 4 elementos utilizados nos sistemas mágicos ocidentais: fogo, ar, terra e água. Cada uma das triplicidades se relaciona com um aspecto universal, de acordo com as energias de cada elemento e os planos com as quais se relacionam em nossa mente. A triplicidade do fogo é conhecida como “triplicidade do espírito”, a da terra como “triplicidade da matéria”, a do ar como “triplicidade do relacionamento” e a da água como “triplicidade da alma”.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
A esta última triplicidade pertencem os signos de Escorpião, Câncer e Peixes. Para compreendermos a natureza comum destes signos é necessário compreender o elemento associado a eles (a água, que é o que nos interessa aqui, representa o “corpo emocional”). Para não consumirmos muito tempo nesta análise, tomemos ciência de que o signo de peixes é do elemento Água, de qualidade ou natureza Mutável, de gênero Feminino (Yin) e pertence a Terceira Dimensão.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Para compreendermos melhor o mito, e, para que possamos efetuar uma melhor relação do mesmo com o conhecimento astrológico devemos nos lembrar da característica mais marcante dos mares: sua ligação com os céus, no que chamamos de “horizonte”.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Para uma análise superficial, o horizonte pode ser tomado como a linha onde o céu (svperivs) toca o mar (inferivs). Sendo meio peixe, meio humanas, a parte animal das mesmas se oculta nas águas do mar. Este aspecto é extremamente interessante quando analisamos o que as águas representam. Para isso, vamos observar brevemente o regente do signo de Peixes: Netuno. Mas vamos por partes.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
As águas são a representação arquetípica de nossos sentimentos e emoções. Sempre em movimento e de uma ciclicidade notória, nossos sentimentos formam o “mar emocional” onde nosso lado primitivo (a nossa cauda vestigial, ou o “rabo de peixe” da sereia) permanece oculto. Estas “águas mentais” são exatamente o que o signo de Peixes representa em uma análise superficial.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O planeta Netuno, que rege o signo de Peixes, pode ser comparado (mas não completamente descrito) pelo deus greco/romano associado. Poseidon/Netuno, rei dos mares, é o poderoso deus dos terremotos e das profundezas marinhas. O planeta regente aprofunda os aspectos do signo e representam o ápice de seu significado.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Desta forma, as profundezas dos mares em que habitam as sereias (e para os quais são levados os homens) são os mares de Netuno. Mares emocionais de tamanha profundidade, que raramente somos capazes de alcançar. Estes mares neptunianos estão associados aos mais profundos sentimentos e necessidades, bem como às mais primitivas emoções humanas.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O canto destes seres, é descrito como oriundo das profundezas dos oceanos e fatalmente atraente para os navegantes que se aventuram em alto mar (de certa forma, o fato de o canto afetar apenas homens tem relação com a polaridade do signo de Peixes, mas isto é assunto para outros artigos). Aqui, podemos apelar para o “culto aos mortos” que se apresenta na versão grega. Em uma referência muito rápida, podemos relacionar o local de onde vem o canto e o que ele resulta com as câmaras mortuárias utilizadas para a iniciação.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O sentido simbólico aqui é óbvio: a atração exercida pelas sereias (veículos da paixão) leva os homens a um mergulho profundo nos mares da alma onde são todos devorados pelas paixões pelas quais mesmos se permitiram dominar. Aqui nos valemos de Homero, pois existem três tipos de homens a serem citados: os homens que se entregaram as paixões e foram devorados por elas, aqueles que taparam os ouvidos com cera (ou com as palavras do e passaram pela tormenta (mas não a experimentaram, não aprendendo com ela) e os que (raro número) ouviram o canto das sereias, mas auxiliados pelas amarras (representadas pelas cordas que amarrariam Ulisses pelo conselho de Circe) permaneceram vivos e experimentaram o mergulho nestas paixões.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Acima dos mares a bela figura feminina, representa (em união com seu canto) a falsa imagem de perfeição que as paixões mal dominadas são capazes de gerar. Esta imagem é um risco iniciático óbvio, e implica em uma observação um pouco mais profunda do homem que mergulha.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Nenhum homem pode ressurgir se não experimentar a morte (se não for engolido pelas profundezas dos mares). Este mergulho nos profundos oceanos da mente é necessário para que possamos, ciclicamente o fazendo, enfrentar nossos defeitos e nossas paixões, resgatando de lá o homem vivo de desejo.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Este é o verdadeiro significado do mito das sereias: os profundos mares de nossa psique são o tohu wa-bohu do homem. Assim como o primitivo homem que habita as profundezas de sua própria potencialidade, a cauda das sereias se oculta em mares obscuros para nossa visão limitada. Apenas através do trabalho sobre nós mesmos podemos construir cordas suficientemente fortes para nos amarrar ao mastro de nosso Eu e experimentar a sensação de tocar o assoalho oceânico de nosso ser.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #4e4e4e; font-family: "myriad pro", "trebuchet ms", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Somente através desta experiência podemos libertar o belo ser que figura acima das águas, mas que não é mais preso às profundezas de seu corpo mental. Tornamos-nos livres, ganhamos asas para então alçar voo rumo aos céus de Urano.</div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2717068158254323168.post-19254799625628939522012-08-16T15:05:00.002-03:002020-03-29T15:44:26.181-03:00Ação - Pensamento - Unidade<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">As ações do homem são
movidas pelos seus pensamentos. A corrupção da natureza humana não é, de forma
alguma, completamente exposta na maldade dos atos. Em realidade, jamais
poderemos sequer ter noção exata da dimensão a que chegou a perversão do ser.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No entanto, a essência
humana permanece a mesma: inalterada ante a miríade de anos de evolução das
almas humanas. E é nesse caos evolutivo, que entidades evoluídas de todas as
linhas de atuação (cristianismo, judaísmo, hinduísmo, budismo, religiões afro e
afro-brasileiras, cultos indígenas e aborígenes, etc.) vem nos relembrar
através de seu exemplo em memória e através de sua ação constante no nosso
plano de existência que a base da evolução humana é a cooperação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cooperar é agir em
conjunto. Mas, se nos lembrarmos de que não existe ação sem pensamento, sem
ideia, cooperar é acima de tudo PENSAR em conjunto. São as nossas intenções, as
nossas vontades que devem ser mudadas primeiramente. Devemos deixar para trás o
ego e o egoísmo e manifestar a vontade perene de auxiliar e crescer. Apenas
quando formos capazes de unir nossas intenções (e este é o conceito de
egrégora) é que seremos capazes de realmente (e eternamente) modificar a
existência humana e nossa coexistência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">"Põe,
sem demora, tuas boas intenções em prática, nunca deixando nenhuma delas
permanecer apenas na intenção."<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Helena Petrovna
Blavatsky - Ocultismo Prático, pag. 75<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não existe então,
crescimento sem cooperação. A evolução de um indivíduo está diretamente ligada
à evolução de toda a humanidade. É uma relação de "se, e somente se".
Há reciprocidade!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">"O
homem evolui se, e somente se, a humanidade evoluir com ele."</span></i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">"A
humanidade evolui se, e somente se, o homem evoluir com ela."<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Esta reciprocidade é
expressa fielmente na figura do instrutor. A beleza de professar a sabedoria e
inspirar no irmão o desejo de co-agir (agir em conjunto) com a natureza divina
presente em si e no outro está presente EXATAMENTE no fato de que a instrução é
a representação máxima da cooperação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não há instrutor sem
aluno. Mesmo que estejamos instruindo a nós mesmos, em algum momento aprendemos
o que sabemos com o auxílio do próximo. No entanto, se escolhemos instruir apenas
a nós mesmos e resguardamos para nós (ou para um grupo restrito) como privilégio
único e inacessível o direito de APRENDER, cessamos o ciclo sagrado da
instrução e levamos a humanidade a evoluir com passos muito lentos. Amarramos
os nossos próprios pés e, até nesse momento, aquelas santas hierarquias vem em
nosso auxílio e nos fazem enxergar os nós que infelizmente atamos com nossos
próprios pensamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Se voltarmos a pensar
em nossos pensamentos como as mãos com as quais sentimos e modelamos o mundo ao
nosso redor e despertarmos para a realidade de que não existe eu individual
(somos fruto de nossa interação social) seremos compreender o poder que as
ideias e as ações possuem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É através então da
manifestação suprema da partícula divina existente no homem, sua Verdadeira
Vontade, que somos capazes de produzir a expressão real de nosso ser no mundo.
No entanto, onde poderemos causar influência senão nos pensamentos alheios?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É necessário então que
sejamos capazes de educar nossa própria percepção a fim de que sejamos capazes
de observar profundamente os efeitos de nossas próprias ações e pensamentos:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aprendei
primeiro nossas leis e educai vossas percepções, caro Irmão. Controlai vossos
poderes involuntários, desenvolvei vossa vontade na direção correta, e vos
tornareis instrutor em vez de estudante.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Mestre Kuthumi<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para isto a Divina
Providência, em sua eterna graça, nos inspira constantemente sua voz através do
seu Santo Espírito diretamente em nosso coração. Então é assim que devemos
compreender:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">[...]Hoje,
se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações[...]<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Hebreus 3:7-8<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O sentido desta
profunda exortação do apóstolo Paulo está descrita neste texto em sua
inteireza. É através da porta da alma, da mansão dos sentimentos, que somos
capazes de ouvir a voz do Eterno. Somente quando somos guiados pelo coração
(atravessando a via que se interpõe ao nosso caminho, tendo-o como porta) e
pela vontade perene de fazer de nossas ações escada para a evolução somos
capazes realmente de agir “ad majorem Dei gloriam”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas que não vejamos
Deus como um ser exterior ao nosso próprio coração. Mas sim como a unidade que
desejamos obter como humanidade evoluída, transmutando o sofrimento declarado
pelo Buda na felicidade eterna declarada pelo Cristo. Interpretemos esta frase
então com um outro significado:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“para
a maior glória de todos nós, na unicidade do Eterno”.<o:p></o:p></span></i></div>
Alexandre Teles (afterSt0rm)http://www.blogger.com/profile/03853688354568917425noreply@blogger.com