terça-feira, 23 de julho de 2013

O Pensamento e a Realização

Tudo o que inventamos, segundo Jiddu Krishnamurti, é fruto do pensamento. Desde as máquinas que nos servem aos rituais e símbolos na Igreja, tudo foi colocado lá pelo pensamento.

Inclusive a nossa visão de Deus foi criada pelo pensamento, moldada pelas diversas frustrações e imposições (sociais ou não). Neste aspecto, nada é verdadeiramente sagrado, de acordo com a lógica de J. Krishnamurti.

De certo que não podemos negar a veracidade destas afirmações, mas podemos analisá-las e chegaremos a uma conclusão que talvez seja a mesma do próprio Krishnamurti: se o pensamento gera tantos erros, mas é só a partir dele que podemos vivenciar e compreender o mundo (através do exercício da inteligência), a realidade do sagrado só pode ser experimentada em completa liberdade (de pensamento). Somente quando estivermos livres dos estabelecimentos, do medo, do vício, é que poderemos efetivamente perceber o “senso de amor” que permeia todas as coisas.

Estes momentos de liberdade só se manifestam quando a mente está completamente quieta e, por este motivo, o sagrado só se manifesta verdadeiramente no silêncio. O sagrado não é apenas “mais uma coisa” que acontece em nossa vida e percebemos com nossos sentidos inferiores, mas uma benção que ultrapassa nosso senso comum, manifestando em nós capacidades, sensoriais e ativas, antes adormecidas.Neste quesito, o próprio Krishnamurti não conseguiu alcançar a realidade do sagrado pois nunca foi capaz de vencer um de seus mais fortes estabelecimentos: a repulsa às religiões.

De certo modo, é compreensível que o barulho imenso causado pelas diversas adições desnecessárias aos rituais e à incompreensão da natureza dos ensinamentos religiosos tenha afastado tantas boas almas da suprema realização. No entanto, cabe a nós fazer a breve observação de que: o sagrado ocorre em momentos. Desta forma, até mesmo o mais sutil dos ensinamentos pode ser capaz de fazer-lhe silêncio na alma. E como nos ensina a Mística Católica, para permanecermos no estado de graça, é necessária uma busca incessante pela santidade.

Muitos pressupõem que o ascetismo necessário à esta busca transcende a natureza do homem comum, mas se enganam aqueles que veem somente um caminho bifurcado à frente da estrada humana. A busca incessante não requer o puro ascetismo e amor ao sofrimento, características dos santos e santas, mas um empenho diário em fazer cada momento da vida mais silencioso e, por consequência, mais sagrado.

A sacralidade da vida se dá nos pequenos momentos em que nossa alma silencia, e nossa centelha vira chama ativa e modificadora.

Share: